quarta-feira, 23 de abril de 2014

Sinagoga de la Ghriba (Djerba)

sinagoga de la Ghriba (ou de el Ghriba; em hebraicoבית הכנסת אלגריבה; em árabeكنيس الغريبة) é um templo judaico situado no centro da ilha de Djerba, no sul da Tunísia. É um dos principais marcos identitários dos judeusde Djerba, uma das últimas comunidades judias que sobrevivem no mundo árabe. A sinagoga é objeto de umaperegrinação anual, por ocasião da festa judaica do Lag Baômer, que reúne vários milhares de peregrinos. É igualmente uma das principais atrações turísticas de Djerba.1
A sua fama tem origem em numerosas tradições e crenças que sublinham a sua antiguidade e no facto de que supostamente contém restos do Templo de Jerusalém. Historicamente, a peregrinação reunia não só os membros das comunidades locais, mas também judeus do resto da Tunísia e da vizinha Líbia. Após a esmagadora maioria dos judeus terem abandonado os países árabes, os visitantes são sobretudo residentes em França e Israel.
À semelhança das outras seis ghribas (sinagogas isoladas, situadas fora de povoações e objeto de peregrinação) dispersas pelo Magrebe, encontra-se em pleno campo, a pouco mais de um quilómetro da aldeia mais próxima, Hara Sghira (nome oficial moderno: Er Riadh), um dos dois povoados judeus existentes na ilha, que até aoséculo XX só era habitado por cohanim (plural de Cohen), o que, segundo a tradição local corrobora o facto que la Ghriba foi fundada por sacerdotes vindos de Jerusalém. Apesar de existirem cinco sinagogas em Hara Sghira, a fim de manter a proeminência de la Ghriba, a tradição impõe que os rolos da Torá nelas usados sejam guardados na la Ghriba, para onde são levados em procissão.
A aldeia de Hara Sghira (em árabe: "bairro pequeno") ainda hoje alberga uma comunidade judia com várias centenas de pessoas. A sinagoga é também conhecida pelo nome Diguet, o qual é uma corruptela berbere da palavra hebraica que significa "porta".
Em 2002, o edifício foi palco de um violento atentado terrorista atribuído à al-Qaeda.
Ghriba é uma palavra árabe que significa "estranho", que reflete p estatuto especial da sinagoga nas tradições judaicas da Tunísia. A Ghriba de Djerba é a mais famosa das várias sinagogas com o mesmo nome existentes em diversos lugares da Tunísia, Argélia e Líbia.
Segundo uma lenda popular, impressa pela primeira vez num livro do rabino Abraham Haim Addadi de Trípoli(Hashomer Emet, publicado em Livorno em 1849),2 alguns sacerdotes chamados Cohanim instalaram-se na ilha de Djerba depois da tomada de Jerusalém e do incêndio do Templo de Salomão ordenado pelo imperador Nabucodonosor II da Babilónia em 586 a.C.3 Esses sacerdotes levaram consigo um elemento do templo destruído que incorporaram na sinagoga. Numa das abóbadas há uma pedra que supostamente é proveniente de Jerusalém. No entanto, a credibilidade dessa lenda é muito questionável, nomeadamente porque as sinagogas mais antigas que se conhecem encontram-se em Israel e são contemporâneas da destruição doSegundo Templo cerca do ano 70 d.C.4 5
Interior da sinagoga
De acordo com outra tradição relatada pelo historiador Nahum Slouschz a partir de narrativas de letrados djerbanos do início doséculo XX, o local onde atualmente se ergue la Ghriba era uma colina à qual ninguém ligava importância. Um dia os judeus de Hara Sghira descobriram ali uma jovem muito bela, que vivia só, numa cabana feita de ramos. Envolvida numa aura de santidade, ninguém ousava ir vê-la e perguntar-lhe a razão da sua presença, por respeito à sua pessoa. Uma noite, viram a choupana em chamas, mas tiveram medo de se aproximar, pensando que a jovem estaria a preparar-se para fazer magia. Depois do incêndio terminar, aproximaram-se e encontraram a jovem morta mas intocada pelas chamas. Perceberam então tratar-se de uma santa e concluíram que deviam tê-la ajudado na sua solidão e iniciaram a construção da sinagoga no local da cabana.6
É difícil determinar em que época a fama de la Ghriba se estendeu para fora de Djerba. A partir da segunda metade do século XIX, assiste-se ao aparecimento de testemunhos salientando o seu carácter sagrado, reconhecido não só pela comunidade judaica, mas também pelos muçulmanos. A sinagoga começa a atrair cada vez mais peregrinos vindos da Tunísia e da Líbia. É possível que a emigração dessa época dos judeus de Djerba para essas regiões tenha contribuído para a difusão da peregrinação. Pelo testemunho de Slouschz, que a visitou no início do século XX, sabe-se que o edifício foi ampliado na década de 1860 ou 1870, usando «pedras tumulares das paredes da casa santa, encontradas no cemitério vizinho». O edifício é descrito como um «prédio quadrado, bastante sóbrio de aspeto e a com uma total falta de estilo [..] No interior, galerias escuras precedem uma nave quadrada com um almenor no meio, e em cima há uma galeria apoiada sobre colunas: nada de particular, de característico».6
Pátio interior da oukala (albergue de peregrinos) anexa à sinagoga
Nos anos 1950, foi construída uma nova oukala (albergue) para acomodar os judeus líbios. Entretanto, a comunidade judia nesse país desaparece completamente na década de 1960 e o novo edifício fica praticamente sem uso.6 Nessa época, o efeito conjugado da extinção das comunidades judaicas da Líbia e do desenvolvimento do turismo de massas altera significativamente a natureza da peregrinação. Algumas agências de viagens começam a oferecer programas que misturam turismo religioso e balnear, orientando a sua oferta principalmente para os judeus originários da Tunísia residentes em França.7
Em 1985 a sinagoga foi palco de violência religiosa, quando durante o Simchat Torá um polícia tunisino encarregado de manter a ordem abriu fogo dentro do recinto da sinagoga matando cinco pessoas, quatro delas judeus.8 9 Em 2002 ocorreu um ataque terrorista suicida, quando um jovem franco-tunisino de 25 anos ligado à rede terrorista al-Qaeda entrou no recinto conduzindo um camião-cisterna carregado de explosivos, causando 21 mortos e 30 feridos.

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